terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Viva a pirataria 2.0 alpha

É raro ver alguém que defenda com unhas e dentes a pirataria. No máximo as pessoas a justificam com alguma desculpa esfarrapada, dizendo que é um sintoma da desigualdade social. E o caso não se restringe aos pobres camelôs. Até mesmo quem pratica a pirataria “mais sofisticada”, catando uma MP3 aqui e crackeando um Windows acolá, não consegue se livrar de um certo complexo de culpa quando escuta o discurso lamurioso da indústria fonográfica e dos fabricantes de software: “A pirataria não gera empregos! A pirataria não paga impostos!”.

Pois eu digo que o crescimento nos últimos anos dos mais diversos tipos de pirataria, seja graças à internet ou aos bons e velhos chineses, é a maior arma que a sociedade possui para conseguirmos passar ilesos por esta dita “era da informação”.

Houve uma época onde a coisa mais importante na economia era comida (bons tempos feudais que não voltam mais). Tão importante que a maioria das teorias econômicas se baseavam em grãos de trigo. Uma delas, muito legal por sinal, era a de Thomas Malthus. Para simplificar, ela dizia o seguinte: a população cresce em progressão geométrica (2, 4, 8, 16, 32..) – afinal, fazer filho é muito gostoso (ele realmente diz isso); já as reservas de comida crescem em progressão aritmética (1, 2, 3, 4...) – a produtividade das terras é limitada e seus recursos são escassos. Conclui-se então que um dia este sistema vai dar merda. Muita boca para pouca comida. Mas aí tudo bem, Deus é um cara sábio, mata 90% da população de fome e o ciclo começa novamente. Uma guerra de vez em quando para matar todo mundo também é bem vinda...

Hoje o que movimenta a economia é conhecimento, tecnologia, informação, cultura, diversão... Ninguém sabe mais se trigo nasce em árvore ou se vem da galinha. E isso só foi possível porque o problema do crescimento populacional foi resolvido (na parte do mundo que vale a pena, esquece essas merdas debaixo do equador) e as pessoas descobriram que ver televisão e jogar video-game é muito mais gostoso e prático do que fazer filhos.

Nesse cenário, o discurso de Malthus se inverte. A quantidade de imbecis produzindo informação cresce em progressão geométrica (músicos de sertanejo, atualizações do Windows, escritores, revistas, programas de TV...) - afinal, viver vida de celebridade é mais gostoso; já a nossa capacidade de assimilar toda esta nova informação cresce apenas em progressão aritmética (afinal, só temos um cérebro). Não é preciso ser nenhum gênio para descobrir que, se ficarmos de braços cruzados, um dia Deus vai ter que baixar na área e matar 90% da galera que insiste em nos entupir com cada vez mais informação.

Afinal, de quantos ex-BBB´s nós precisamos? Quantas celebridades se revezando semanalmente em fofoquinhas mostradas pelos programas de TV são necessárias para nos entreter? Uma nova versão do Photoshop a cada 4 meses não é um pouco de exagero? Uma banca de jornal hoje em dia possui mais títulos do que a biblioteca do meu colégio tinha quando eu cursava o ginásio!

É nesse ponto que a pirataria entra para nos salvar. A cada MP3 que baixamos, mais miserável fica aquele maldito grupo de Axé. A cada software pirata que instalamos, um programador sueco fica sem dinheiro para comprar Prozac e se suicida. A cada camisa da Nike falsificada que vestimos (marca também é informação), menos jogadores de futebol vão ostentar carrões importados. Com esta escassez de recursos forma-se um ciclo virtuoso e, pouco a pouco, aquele sonhado ponto de equilíbrio onde apenas “informação relevante” é produzida vai se aproximando. O mundo poderá se ver livre de quem só quer alugar um espacinho no nosso cérebro para faturar mais dinheiro e ostentar uma vida de luxo e riqueza. O caminho fica livre para aqueles que querem apenas passar a sua mensagem e receber o que é justo por isso.

Fique satisfeito por cada ato de pirataria que você já cometeu (e vai cometer ainda mais a partir de hoje). Você está contribuindo para que o joio deixe de ser irrigado e no final só reste o bom e velho trigo, que a era da informação está quase nos fazendo esquecer de onde ele vem.

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